terça-feira, 8 de junho de 2010

De Quem é o Rosto?

Falava-se sobre as agruras humanas Chico Xavier foi indagado a respeito da postura espírita diante do sofrimento.O médium, experiente na arte de enfrentar as dores do Mundo,respondeu, bem-humorado:
– Sabemos que o sofrimento faz parte da existência humana. Por isso, o espírita consciente chora escondido.Depois, lava o rosto e vai atender, sorrindo, à multidão.

Dores e atribulações são próprias deste Planeta de Provas e Expiações, onde vivemos, conforme a classificação de Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo. Funcionam como lixas grossas, que desbastam nossas imperfeições mais grosseiras. Espíritos imaturos, iniciantes na arte de viver como filhos de Deus, aqui estamos atendendo a um desses dois objetivos:
 Provação – as dores solicitadas.
O Espírito reencarna com uma programação que planejou, consciente do que deverá enfrentar para o resgate de seus débitos.
 Expiação – dores impostas.
A programação é feita por mentores espirituais, em benefício de Espíritos que recalcitram em reconhecer a extensão de seus comprometimentos perante as leis divinas.

Se guardamos submissão aos desígnios divinos, aceitando sem lamúrias, revolta ou desespero nossos males, procurando fazer o melhor, estamos em provação.
Se gememos e choramos; se nos torturamos, perdidos nos labirintos da revolta e da inconformação; se enfrentamos o resgate de nossos débitos meio na marra, segundo a expressão popular, afligindo os familiares, estamos em expiação.
Com semelhante postura, apenas multiplicamos sofrimentos, sem adicionar valores de resgate.

Reportando-se ao assunto, alguém comentou que certamente Chico esteve em provação, já que encarou com humildade e serenidade incontáveis males que se sucederam em sua gloriosa trajetória, particularmente na infância e na adolescência.
A meu ver ele não se enquadra em nenhuma das duas alternativas.
Como todo missionário autêntico, que vem à Terra em gloriosas missões em favor do aprimoramento moral da Humanidade,certamente escolheu vida difícil,enfrentando privações e dores, a fim de não se desviar do caminho traçado.
Chico situou-se na Terra como aquele homem da passagem evangélica,(João, 9:1-3), que nasceu cego não por culpa sua ou de seus pais, mas para que se manifestassem nele as obras de Deus, o que aconteceu a mão cheia, como diria Castro Alves, nos quatrocentos e doze livros que psicografou.

Conforme ensina a Doutrina Espírita, a Mestra Dor suavizará seus rigores, desde que correspondamos aos apelos do Bem, participando com dedicação nas lides da caridade, a partir da inesquecível observação do apóstolo Pedro, em sua Primeira Epístola (4:8):
O amor cobre a multidão de pecados.

Consideremos, todavia, a necessidades de calar quanto às próprias atribulações.
É benéfico extravasar em lágrimas as nossas agruras, aliviando o coração, mas sempre em recolhimento.
Em público, corremos o risco de estar apenas fazendo propaganda de nossas dores, em busca da comiseração alheia, o “coitadinho”!
Depois é lavar o rosto e cuidar do próximo, o atalho que nos permite queimar etapas na jornada rumo à perfeição, lembrando com a sabedoria popular:
O coração é nosso.
O rosto é dos outros.
Richard Simonetti
Revista Reformador

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